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domingo, 22 de março de 2015

Artigo: Espaço de brincadeira

Texto retirado da Revista Educação Infantil no endereço eletrônico: 
http://www.revistaei.com.br/edicao/11/ambiente-escolar/espaco-de-brincadeira   
Criação e manutenção de cantinhos para brincadeiras e atividades lúdicas requerem atenção a alguns aspectos e a dedicação dos educadores para torná-los funcionais 
Patrícia Ribas

A presença dos cantinhos para a realização de brincadeiras e atividades está se tornando cada vez mais comum nas unidades de educação infantil. As primeiras versões do que mais tarde se configurou nesses espaços datam do século XIX. Foi o pedagogo alemão Friedrich Fröbel (1782-1852) quem primeiro rascunhou sua criação, ideia que foi trabalhada e aprofundada ao longo do século XX pela italiana Maria Montessori (1870-1952) e por outros pensadores até os dias atuais. Com sua importância reconhecida para o atendimento de crianças de 0 a 5 anos, profissionais da educação de todo o país não raro se deparam com a seguinte questão: como criar um cantinho? E mais: como torná-lo interessante para os pequenos? Mais Informações click aqui..


Para a arquiteta e educadora Adriana Freyberger, consultora de espaços para a infância, na criação dos cantos devem ser consideradas as características próprias tanto da proposta pedagógica quanto da criança e das turmas. “A gente precisa oferecer qualidade para todos, mas lembrando que as crianças possuem necessidades diferentes. Acredito que nos encontramos hoje nesse processo, de não massificar. Pelo contrário, a proposta hoje é trabalhar individualmente para melhorar a qualidade”, diz. 



Para alcançar esse objetivo, Adriana considera fundamental que a proposta de intervenção apoie-se no público-alvo da ação: a criança, cujas ações precisam ser observadas, e suas reais necessidades, mapeadas. “Nesse contexto, o espaço se constrói conforme a demanda e tem possibilidade de ser transformado por seus próprios atores”, declara. A construção de espaços móveis, que permitam variações constantes, é outra recomendação. “A criança passa lá 3, 4 anos, e o espaço está sempre igual. Não pode”, afirma. “Os cantos não podem ser estáticos, devem ter sempre a possibilidade de serem modificados, para que possam acompanhar as brincadeiras das crianças”, avalia. 



A questão da mobilidade também é defendida pela pedagoga Camila Serra, que atua na Casa do Brincar, em São Paulo (SP), espaço voltado especificamente para atividades lúdicas e brincadeiras. Em sua opinião, o espaço mutante tem como vantagem a possibilidade de diversificar as situações propostas pelo educador e, assim, ampliar o repertório de brincadeiras da criança. “Por exemplo: uma mesa, que hoje serve como fogão para fazer comidinhas de faz de conta, amanhã pode ser virada com as pernas para o alto e se transformar na base de uma cabana. Em outra situação, a mesma mesa pode servir de base para um jogo de tabuleiro ou uma atividade de arte”, explica.



A flexibilidade é importante ainda para que as crianças possam imprimir nos espaços o repertório que trazem de casa, segundo a professora do Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas, Lenira Haddad, profissional com quase três décadas de atuação no estudo, pesquisa e implementação de espaços para a educação infantil. “Costumo falar em áreas de interesse, não de cantinhos, como miniambientes que oferecem várias possibilidades de interação”, diz. Para ela, é importante que a criança interaja com todos os materiais, que transite pelas áreas de forma livre. “Há propostas que delimitam, algumas impõem tempo para a presença das crianças em cada ambiente. Não gosto disso. Penso ser mais interessante a existência de várias áreas e a possibilidade de as crianças percorrerem todas elas, de acordo com o que têm em mente. Cabe ao professor entender isso”, avalia. 



Brincar junto

No momento de levantar as necessidades das crianças, há duas variáveis que precisam ser observadas: a faixa etária e as particularidades do grupo. “Cada fase tem necessidades diferentes”, pontua Roselene Crepaldi, pedagoga e conselheira do Movimento Aliança pela Infância. “Bebês, por exemplo, pedem mais constância, espaços mais definidos. Você também não vai oferecer tesouras ou bolinhas de gude que podem ser engolidas para os menores. Cada idade tem características específicas e isso deve ser observado, tanto em relação à segurança, quanto aos interesses, bem como quanto à intenção do educador.”



Ela propõe ainda a participação direta do professor no processo. “O ideal é que o adulto lembre-se de quando ele era criança e vá brincando junto com os alunos. O professor pode oferecer o canto, organizar os materiais e os cenários, e depois entrar na brincadeira, instigar, perguntar. Isso é muito bacana para desenvolver o espaço”, diz. “Não adianta 'deixar lá'. A brincadeira é um comportamento que se aprende. A criança imita e vai modificando, criando, dando forma àquilo da sua maneira. Por exemplo: se o educador trouxer uma perna de pau e não mostrar como se usa, ninguém vai brincar”, diz Roselene. “O professor deve procurar ver o mundo com os olhos das crianças, ser criativo, perguntar e ouvir. Tem de ser parceiro de brincar.”



Na lida



A participação do professor na brincadeira também é apontada por Dulcinéia Gerolamo Alves, professora de educação infantil na rede pública de Ribeirão Preto (SP), como essencial para o sucesso dos cantinhos. “Não basta montar o espaço e esperar que a criança pequena descubra sozinha como se brinca. A professora precisa fazer a interação, brincar com os alunos”, diz ela, que faz uso dos cantos na sua prática pedagógica. “Gosto de trabalhar com temas. Por exemplo: monto uma cozinha, um fogãozinho, panelinhas. No primeiro momento permito que explorem o espaço, toquem nos objetos e façam todo tipo de experimentação. Depois vou brincar junto, mostrar a função de cada brinquedo, identificar cada peça, instigar com frases do tipo 'que comida linda, deixa eu cheirar', 'que gostoso', enfim, participar”, conta. “É fundamental que o professor seja o mediador daquela situação de aprendizagem”, afirma.



Nesse sentido, Dulcinéia ressalta que cabe ao educador planejar suas ações com o canto, determinando quando fará uso dele e quais intervenções realizará. “Há uma riqueza de ações que só a atuação com os alunos oferece, como o desenvolvimento cognitivo e emocional, a socialização e o imaginário.” Mas, de maneira geral, ela afirma que o importante é que os espaços sejam aconchegantes, seguros e possibilitem o desenvolvimento de competências pelas crianças, independentemente da área disponível e da infraestrutura de que dispõe o professor. 



Sobre esse aspecto, Adriana comenta que é comum que as decisões e mesmo a implementação desses e de outros espaços sejam atribuídas às diretoras, que muitas vezes não contam com assessores e apoio de outras secretarias. O ideal, em sua opinião, seria que a criação dos cantinhos e de todo e qualquer arranjo no interior da escola contasse com o suporte e a parceria de profissionais especializados, sem que isso signifique tirar a autonomia dos profissionais da escola para decidir o quê e como fazer. 



Ter e manter



Indo além das questões físicas do espaço, Lenira enfatiza a necessidade de observar a qualidade dos materiais que serão oferecidos. “Por exemplo: é comum a presença da 'caixa de brinquedos' nas escolas, que é despejada para as turmas na hora de brincar. Aí você vê boneca sem braço, carrinho sem roda, sucata de brinquedos. E a criança vai responder de acordo com o estímulo que recebe: ela vai ficar irritada. A brincadeira vai ser curta, as interações muito mais pobres, haverá mais disputa por material, menos colaboração para guardar, vão atirar os brinquedos na caixa”, diz. “Da minha experiência, sei que as crianças se organizam, e muito rápido. Assim, quanto mais organizado o espaço, quanto mais ela se apropria daquele ambiente e participa do processo, mais ela colabora para arrumar, guardar, limpar. Daí a atenção à manutenção dos ambientes”, aponta Lenira, que é bastante enfática nesta questão. “Quebrou algum brinquedo? Tira, repõe. Brinquedo é material de consumo, como material de higiene. Deve haver reposição. Não basta apenas organizar uma área, tem de haver uma proposta de uso e manutenção do espaço”, sustenta a educadora 



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Para Inpirar



Os especialistas consultados pela reportagem apontam a seguir algumas ideias para cantinhos de brincar móveis e criativos.



- Já há no mercado kits prontos para ambientes (móveis para casinha, conjuntos de artes, etc.), mas, quando não há muito recurso, é possível criar espaços interessantes usando materiais simples, inclusive reciclados. Uma caixa de papelão pode virar geladeira, barco ou robô – vai da habilidade e da criatividade dos envolvidos.



- Procure usar cores bastante variadas para decorar os espaços (por exemplo: pintar o canto da cozinha de roxo ou rosa pode espantar os meninos).



- Diversidade de materiais também é importante: vale investir em colchonetes, tapetinhos de texturas variadas, pufes e afins.



- Quantidade conta: há que se ter uma quantia de brinquedos e materiais que garanta que todas as crianças, ou boa parte delas, possam  brincar. Um jogo de peças de montar pequeno pode ser muito frustrante – como fazer qualquer coisa com duas pecinhas cada? 



- Bebês passam boa parte do tempo deitados, olhando para o teto. Assim, vale pensar em colagens neste ponto da sala, bem como móbiles e outros acessórios. 



- Ganchos dispostos em alguns pontos da parede e pedaços de tecido podem virar barracas e outras construções.



- Misturar elementos dos ambientes é bacana: livros do cantinho da leitura podem ser dispostos em outros cantos: caderno de receitas na cozinha, livro de histórias no quartinho, etc.



- Biombos de papelão podem ser tela para a criação de inúmeros cenários – florestas, castelos, circos. Vai da imaginação e da proposta.



- Se não há acesso a área verde, um simples vaso de ervas aromáticas é bastante atraente e oferece possibilidades de cheiro e textura para os pequenos.



- Caixas com areia também são interessantes, bem como recipientes para brincadeiras com água.

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