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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

RELAÇÕES ETNICORRACIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL


“... Toda gente da Bahia
Sabe já
De onde vem a melodia
Do ijexá
O sol nasce todo dia vem de lá
Entre o Oriente e Ocidente
Onde fica?
Qual a origem da gente?
África fica no meio do mapa do
Mundo do
Atlas da vida
Áfricas ficam na África que fica
Lá e aqui...
Basta atravessar o mar
Pra chegar
Onde cresce o Baobá
Pra saber
Da floresta de Oxalá ...”
( PauloTatit e Sandra Peres-Palavra Cantada)

Para responder as questões postas pelos músicos, autores e compositores de um vasto repertório musical infantil, é preciso aceitar o desafio de passar pelo processo doloroso de descer de nossa prepotente herança cultural eurocêntrica, para desconstruir conceitos equivocadamente construídos ao longo de nossa história, fruto de uma colonização de exploração e usurpação de riquezas culturais, minerais florestais e tantas outras. 

Precisamos passar pelo cuidadoso exercício de conhecer a diversidade do continente africano, valorizar as diversas culturas dos povos também muitos diversos, reconhecer as valiosas contribuições desse continente para a formação do povo brasileiro e sobretudo assumirmos o nosso pertencimento à este povo. E nesse sentido comungamos do lema,” O tempo que separou nossos Continentes é o mesmo que une nossas culturas,” postado no cartaz que conclama a sociedade para comemorar “o 20 de novembro, dia da consciência negra.”

Pensar em todas essas questões considerando a sua complexidade se torna mais desafiante ainda, quando são abordadas com as crianças pequenas, e nesse sentido falo das crianças que tem a oportunidade de freqüentar a educação infantil em uma das instituições de Goiânia –CMEI 13 de Maio, que durante este ano atendeu as de idade entre 6 meses e cinco anos e onze meses.

O trabalho proposto para essa idade se encontra fundamentado no documento de caráter mandatório, Diretrizes Nacionais Curriculares para Educação Infantil de 2009, que observa nos artigos 7º, inciso V e 8º, incisos VIII e IX a função sociopolítica e pedagógica, bem como a efetivação dos objetivos das propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil:
V.construindo novas formas de sociabilidade e de subjetividade comprometidas com a ludicidade, a democracia, a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de dominações etárias, socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, lingüística e religiosa.
VIII- a apropriação pelas crianças das contribuições histórico-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes, asiáticos, europeus, e de outros países da América.
IX – o reconhecimento, a valorização, o respeito e a interação das crianças com as histórias e as culturas africanas, afro- brasileiras, bem como o combate ao racismo e à discriminação;
Temos acreditado na importância da implementação de ações educativas reconhecendo o papel da instituição de Educação Infantil enquanto espaço possibilitador do que as diretrizes determinam. Com a elaboração e implementação do projeto institucional “Somos Diferentes, Mas Não Desiguais” procuramos discutir de maneira sistematizada as questões etnicorraciais com as crianças, famílias e profissionais.

Reconhecer este espaço como um lugar de efetivação de práticas pedagógicas favoráveis a discussão dessa temática nos coloca em consonância com o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnicos Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana, (junho,2009) quando este versa:

Os espaços coletivos educacionais, nos primeiros anos de vida, são espaços privilegiados para promover a eliminação de qualquer forma de preconceito, racismo e discriminação, fazendo com que as crianças, desde muito pequenas, compreendam e se envolvam conscientemente em ações que conheçam, reconheçam e valorizam a importância dos diferentes grupos etnicorraciais para a história e a cultura brasileira. (p.48)

Sendo o CMEI este ambiente de convivência coletiva se constituindo e como espaço privilegiado para desenvolver um trabalho capaz de emergir os processos de subjetividade que envolvem as crianças pequenas, tendo em vista que essas pertencem a um grupo social, percebem as diferenças raciais e começam a cristalizar certas atitudes preconceituosas em relação ao que lhes são diferentes de suas características físicas, apontando assim a necessidade de uma intervenção pedagógica intencional que possibilite uma reflexão desse tipo de atitude em relação aos seu pares diversos.

As questões referentes as relações etnicorraciais tem merecido um olhar mais apurado por parte das profissionais que atuam na educação infantil, pelo fato de que em nosso país o racismo tem se materializado de manera velada. Geralmente não assumimos que somos racistas,e isso apenas contribui para o distanciamento do problema não havendo aprofundamento nas discussões . E na educação infantil,o racismo aparece nas relações afetivas e corporais entre as profissionais e as crianças, bem como nas brincadeiras destas entre si sobretudo no jogo de papéis

É pensando em romper com essas situações perpassadas pela a sociedade, que além do trabalho realizado junto às crianças, famílias e profissionais, temos possibilitado a estes sujeitos e a comunidade local usufruir de momentos coletivos, em que comunicamos o resultado desse processo vivenciado no cotidiano da instituição, por meio de caminhada como a que foi noticiada por este jornal na coluna Força Livre do dia 19/11por Fabiane Costa, que fez a cobertura do evento realizado no dia 18/11.

Pensem vocês na grandiosidade dessa ação para todos os envolvidos! Os CMEIs próximos ao CMEI 13 de Maio, o Projeto Arte Educação, a Asssociação de Idosos Vanguarda,representantes da Secretaria Municipal de Educação por da EPAZ e do Sindicato dos Trabalhadores em Educação(sintego).Estes seguimentos presentes, juntos aos bebês que em seus primeiros passos recorreram aos colos das profissionais para descansarem e se colocarem a caminho novamente.As crianças que correram até as calçadas para entregar um panfleto aos comerciantes e moradores.

É essa oportunidade ímpar que a instituição de educação infantil pode possibilitar, principalmente às crianças que devido a pouca idade não conseguem se ingressar nos movimentos sociais e exerceem este ato de cidadania- manifestar.O CMEI é este espaço oportunizador dessa linguagem dos movimentos socias.Manifestar pela paz e contra o racismo foi um evento realizado pelo segundo ano consecutivo de grande significado para as crianças pequenas.

Podemos considerar que este trabalho tem uma relevância social, tendo em vista que foi selecionado na categoria de relato de experiência para sua comunicação no XX Simpósio da Faculdade de Educação de Goiás FE-UFG. Fomos convidados a participar do abraço negro promovido pela Secretaria de Igualdade Racial e Sintego em que mais uma vez nossa crianças demonstraram saber do que se tratava desde a apreciação das apresentações até o abraço simbólico ao Lago das Rosas. É saindo das dicussões teóricas para a consolidação de ções como estas, é que podemos favorecer o rompimento com práticas de preconceitos e racismo presente nas relações sociais. E começar pela Educação Infantil podemos descobrir que Áfricas ficam na África que fica lá e aqui...

Artigo escrito em dezembro de 2011
Hilda Maria de Alvarenga,professora ,graduada em pedogogia pela UFG, especialista em Métodos e Tecnicas de Ensino pela Universo. Cursando: Especialização em Educação Infantil pela UFG e em liturgia, pela Rede Celebra/Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás-IFTG.Dirigente do CMEI 13 de Maio, localizado no Parque Industrial João Braz.